São Gregório VII viveu no período em que
vigorava na igreja católica as “investiduras”,
ou seja, os líderes políticos e senhores feudais, reis, príncipes, achavam que
tinham o direito de escolher os cargos importantes da igreja (era o período do
Império Germânico). Este período de submissão política resultou na decadência moral
da igreja, uma vez que havia uma ingerência direta do poder político dentro da mesma,
fazendo com que os poderosos escolhessem os bispos, os abades, os papas, etc.,
corrompendo a igreja de sobremaneira, pois colocavam nos altos cargos da igreja,
através da compra de cargos, pessoas que não estavam preocupadas com o bem espiritual
da mesma.
Esta realidade começa a mudar quando no
século XI, o Papa Gregório VII, excomungou o imperador Henrique IV que até
então controlava a igreja, a usando para os seus interesses pessoais,
escolhendo os bispos, papas, etc., e vendendo cargos. Após a excomunhão do
imperador, Gregório VII liberou os súditos de obediência ao mesmo. O que, porém,
impressiona, é o fato de as pessoas terem obedecido ao invés de portarem-se fieis
ao homem mais poderoso do mundo naquele momento, e fizeram isto sem que o Papa
levantasse uma arma.
Então, o que aconteceu para que as
pessoas acolhessem a orientação do papa? Qual o fato que desencadeou a ação
libertadora da sociedade daquela época, fazendo cair por terra a submissão ao
imperador?
Para que isto acontecesse foi importante
o trabalho de formiguinha dos monges de Cluny, eles foram gradativamente
fazendo um trabalho de conscientização e doutrinação que desencadeou neste
marco histórico.
Cluny
foi mosteiro fundado na frança no século X, submetido diretamente ao papa e
independente do controle político, onde os monges elegiam seus abades. O
mosteiro logo se transformou e uma escola de conhecimento e de estudos, onde se desenvolveu um trabalho
civilizatório. Cluny chegou a ter mais de três mil fundações, marcando como
uma constelação o mapa da Europa. Assim, os monges destes mosteiros, que eram
independentes dos senhores feudais, colocaram
no coração das pessoas que enquanto a igreja não tivesse um Senhor e
continuasse servindo aos senhores a igreja não seria fiel, foram 100 anos de um
processo evangelizador.
O Trabalho civilizatório de cluny na busca por uma igreja espiritualmente
independente dos interesses políticos, nos faz refletir sobre nossa realidade
política que submete a população aos interesses pessoais dos poderosos de nosso
tempo. A igreja conseguiu convencer os príncipes
eleitores (que escolhiam o imperador) de que eles precisavam de uma igreja
independente da influência do imperador. Prova-se
aqui a influencia política que a igreja conseguiu adquirir a partir do lento
processo de conscientização dos monges de Cluny.
Embora a nossa sociedade apresente uma realidade
bem diferente da vivenciada durante o Império germânico, os príncipes eleitores subsistem, e quem são eles? Onde estão? Nós somos os príncipes eleitores, nós
vivemos numja democracia e somos nós quem fazemos os “Reis” Precisamos ter consciência
disto.
Nisto é que reside a lição da igreja da Idade
Média à igreja dos dias atuais. É preciso evangelizar os príncipes eleitores
que é o seu povo, conscientizando-o da necessidade de se libertar das amarras
dos modernos donos do poder, que já não tem força contra a igreja, mas ditam
quem ocupa os cargos importantes em grande parte das repartições públicas,
demitindo, transferindo, empossando servidores com o intuito de favorecimento
pessoal.
Precisamos com urgência de um novo Cluny, ainda que seu processo
civilizatório se dê pelo período de um século como outrora, mas que seja em fim
possível de ver esse povo ter coragem de escolher melhor, escolher a
honestidade, a ética e a moralidade, não se submetendo à jogatina política da
compra do voto, corolário da compra de cargos.
Evangelizando
esses novos príncipes não teremos nunca mais a necessidade de depor qualquer
Rei,
como fez Gregório VII, pois estes terão capacidade suficiente para escolher o “bom”
governo.
Assim, enquanto igreja o que podemos
pretender é que cumpramos “a nossa função evangelizadora de uma forma tal que,
os católicos engajados no mundo da política exerçam o seu protagonismo leigo,
como homens e mulheres convertidos, e que obedeçam aos verdadeiros valores cristãos.
Foto: Internet
*Elaborado a partir do vídeo do
Padre Paulo Ricardo: O Papel da Igreja no mundo político.
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