segunda-feira, 24 de outubro de 2016

LIÇÕES ANTIGAS PARA A LIBERTAÇÃO DE UMA SOCIEDADE DOMINADA PELO PODER POLÍTICO: O EXEMPLO QUE VEM DA IGREJA CATÓLICA

São Gregório VII viveu no período em que vigorava na igreja católica as “investiduras”, ou seja, os líderes políticos e senhores feudais, reis, príncipes, achavam que tinham o direito de escolher os cargos importantes da igreja (era o período do Império Germânico). Este período de submissão política resultou na decadência moral da igreja, uma vez que havia uma ingerência direta do poder político dentro da mesma, fazendo com que os poderosos escolhessem os bispos, os abades, os papas, etc., corrompendo a igreja de sobremaneira, pois colocavam nos altos cargos da igreja, através da compra de cargos, pessoas que não estavam preocupadas com o bem espiritual da mesma.

Esta realidade começa a mudar quando no século XI, o Papa Gregório VII, excomungou o imperador Henrique IV que até então controlava a igreja, a usando para os seus interesses pessoais, escolhendo os bispos, papas, etc., e vendendo cargos. Após a excomunhão do imperador, Gregório VII liberou os súditos de obediência ao mesmo. O que, porém, impressiona, é o fato de as pessoas terem obedecido ao invés de portarem-se fieis ao homem mais poderoso do mundo naquele momento, e fizeram isto sem que o Papa levantasse uma arma.

Então, o que aconteceu para que as pessoas acolhessem a orientação do papa? Qual o fato que desencadeou a ação libertadora da sociedade daquela época, fazendo cair por terra a submissão ao imperador?

Para que isto acontecesse foi importante o trabalho de formiguinha dos monges de Cluny, eles foram gradativamente fazendo um trabalho de conscientização e doutrinação que desencadeou neste marco histórico.

Cluny foi mosteiro fundado na frança no século X, submetido diretamente ao papa e independente do controle político, onde os monges elegiam seus abades. O mosteiro logo se transformou e uma escola de conhecimento  e de estudos, onde se desenvolveu um trabalho civilizatório. Cluny chegou a ter mais de três mil fundações, marcando como uma constelação o mapa da Europa. Assim, os monges destes mosteiros, que eram independentes dos senhores feudais, colocaram no coração das pessoas que enquanto a igreja não tivesse um Senhor e continuasse servindo aos senhores a igreja não seria fiel, foram 100 anos de um processo evangelizador.

O Trabalho civilizatório de cluny na busca por uma igreja espiritualmente independente dos interesses políticos, nos faz refletir sobre nossa realidade política que submete a população aos interesses pessoais dos poderosos de nosso tempo. A igreja conseguiu convencer os príncipes eleitores (que escolhiam o imperador) de que eles precisavam de uma igreja independente da influência do imperador. Prova-se aqui a influencia política que a igreja conseguiu adquirir a partir do lento processo de conscientização dos monges de Cluny.

Embora a nossa sociedade apresente uma realidade bem diferente da vivenciada durante o Império germânico, os príncipes eleitores subsistem, e quem são eles? Onde estão? Nós somos os príncipes eleitores, nós vivemos numja democracia e somos nós quem fazemos os “Reis” Precisamos ter consciência disto.
Nisto é que reside a lição da igreja da Idade Média à igreja dos dias atuais. É preciso evangelizar os príncipes eleitores que é o seu povo, conscientizando-o da necessidade de se libertar das amarras dos modernos donos do poder, que já não tem força contra a igreja, mas ditam quem ocupa os cargos importantes em grande parte das repartições públicas, demitindo, transferindo, empossando servidores com o intuito de favorecimento pessoal.

Precisamos com urgência de um novo Cluny, ainda que seu processo civilizatório se dê pelo período de um século como outrora, mas que seja em fim possível de ver esse povo ter coragem de escolher melhor, escolher a honestidade, a ética e a moralidade, não se submetendo à jogatina política da compra do voto, corolário da compra de cargos.

Evangelizando esses novos príncipes não teremos nunca mais a necessidade de depor qualquer Rei, como fez Gregório VII, pois estes terão capacidade suficiente para escolher o “bom” governo.

Assim, enquanto igreja o que podemos pretender é que cumpramos “a nossa função evangelizadora de uma forma tal que, os católicos engajados no mundo da política exerçam o seu protagonismo leigo, como homens e mulheres convertidos, e que obedeçam aos verdadeiros valores cristãos.




Foto: Internet

*Elaborado a partir do vídeo do Padre Paulo Ricardo: O Papel da Igreja no mundo político.



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